Mesmo sem entender de que se tratava, cresci ouvindo o meu pai falando sobre a seca. Lembro-me, também, de seus comentários sobre o inverno, a colheita e a intensidade das chuvas, sempre fazendo comparações com os anos anteriores. As irregularidades pluviométricas verificadas no Nordeste, levaram o governo federal a criar no início do século XX, o Polígono das Secas e o DNOCS. Foram, também, iniciadas as construções de grandes barragens na Região. Luiz Gonzaga, já quase famoso, começa a propagar os efeitos da seca cantando Asa Branca de sua autoria e Humberto Teixeira, A Volta da Asa Branca, Vozes da Seca e Acauã, todas feitas em parceria com Zé Dantas, se assemelham a orações. A Triste Partida, toada de Patativa do Assaré, foi gravada por Gonzagão já como Rei do Baião e atingiu em cheio os sofridos corações nordestinos.O Jornal do Commércio do dia 14 de dezembro de 1957 divulga nota em que o DNOCS anuncia para janeiro de 1958, a inauguração do Açude Poço da Cruz, com capacidade para armazenar 500 milhões de metros cúbicos de água. Deu no JC do dia 14 de abril de 1958: Chove forte desde ontem nos municípios agrestinos de Pesqueira, Caruaru e Garanhuns, segundo informações do DPV – Departamento de Produção Vegetal. Diante disso, os agricultores iniciam nos próximos dias, o plantio de milho e feijão. O JC também noticiou no dia 02 de maio do mesmo ano: O governador Cordeiro de Farias viaja hoje para o Agreste a fim de verificar uma praga que vem atacando as plantações. Essa praga aconteceu após as fortes chuvas na região, principalmente em Pesqueira, estragando a plantação do tomate. O governador viaja em companhia de agrônomos do IPA e passará cerca de uma semana na região. No mesmo ano, no dia 10 de junho, o JC publicou: Agricultores de Pesqueira estão preocupados e pedem ajuda ao governo estadual, para o combate da praga de gafanhotos nas plantações do tomate. O município é o maior plantador do tomate e os plantadores temem prejuízo total. O governo prometeu pulverizar as plantações que atingem mais de 500 hectares. Nota-se, nas canções gravadas por Gonzagão o teor de tristeza em suas melodias e as lamentações contidas nas letras. Uma, porém, se destaca por condenar a prática de assistencialismo implantada já naquele tempo, quando o governo mandava alistar as pessoas atingidas pelas calamidades a fim de lhes enviar ajuda. Em Vozes da Seca, os autores “puxam as orelhas” dos políticos com esses versos: “Seu doutor uma esmola/a um homem que é são/ou lhe mata de vergonha/ou vicia o cidadão”.
Infelizmente, as advertências dos poetas e o clamor dos cidadãos, não comoveram os governos e estes, pouco realizaram para amenizar os efeitos da falta de chuvas numa região onde a agricultura, a pecuária e a agroindústria eram as principais atividades econômicas. Resta-nos perguntar aos governantes de plantão: até quando as secas continuarão fazendo as suas vítimas e ao mesmo tempo, servindo de trampolim para os caçadores de votos?
Brevemente voltaremos a abordar o assunto, com dados mais atuais.
Pesqueira, 17 de maio de 2013.Sdonisete
Por Buique & Cia
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