Eles estão entre os 141 casos de PE em 2015 - foram 12 em 2014.
Famílias relatam rotina de buscar acompanhamento e entender diagnóstico.
Buscar informações, conseguir acompanhamento. A rotina é semelhante para as famílias das crianças com microcefalia, uma malformação em que o recém-nascido tem o crânio pequeno.Pernambuco registrou 141 casos nesse ano, dez vezes mais do que no ano passado e o Ministério da Saúde decretou estado de emergência em saúde pública. Só na manhã desta quinta-feira (12), o Centro de Referência dos Imunobiológicos Especiais do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), no Recife, atendeu seis dos 141 bebês nascidos este ano com a malformação.
São casos confirmados. Algumas famílias vieram para a primeira consulta, enquanto outras já estão fazendo os exames exigidos no protocolo para apurar o que causou o problema. São exames de sangue, urina e de líquor, o líquido da coluna espinhal. Segundo os médicos, bebês com microcefalia têm o desenvolvimento do cérebro comprometido, mas os níveis de comprometimento variam caso a caso. A dimensão da lesão no cérebro depende da causa da microcefalia e de em que fase da gestação o bebê foi afetado.
As causas do aumento de ocorrências ainda estão sendo apuradas. Médicos tentam identificar o que houve em comum com as mães durante os primeiros meses de gravidez. As causas da malformação podem ser genéticas; por utilização de drogas, álcool e tóxicos durante a gravidez; ou devido a alguma infecção que passa da mãe para o bebê, como rubéola, toxoplasmose, entre outras. Os médicos investigam se há também alguma relação com casos de dengue, zika vírus ou chikungunya.
“Ela é o meu presente. É muito esperta, mama bastante”, conta Ângela*, mãe de uma menina de pouco mais de um mês que nasceu com microcefalia. Ela descobriu que o desenvolvimento da filha não estava normal quando tinha 25 semanas de gestação, durante uma ultrassonografia morfológica. “De 15 em 15 dias eu tinha que ir ao médico, fazer exames. Surgem muitas dúvidas, a gente fica sem saber o que causou, assusta qualquer um”, explica a mãe.
Durante a gravidez, Ângela teve suspeita de dengue, com manchas espalhadas pela pele. Chegou a ir ao hospital, mas fizeram apenas o teste de rubeóla, que deu negativo. Morando em Paulista, no Grande Recife, ela agora leva, uma vez por semana, a filha para fazer fisioterapia, terapia ocupacional e acompanhamento fonoaudiológico.
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A rotina é dividida com o marido, que também busca encontrar as respostas sobre o caso. “Esse agora é um momento de descoberta, a gente vai procurando informação e entendendo o que é a microcefalia, buscando acompanhamento”, explica a mãe.
Já Karina* descobriu que o filho tinha microcefalia apenas quando o menino nasceu, há quatro dias. Moradora de Olinda, também no Grande Recife, ela conta que teve apenas uma dor de cabeça forte. Ela já tem uma outra filha, de dois anos, que não apresentou nenhuma malformação. “A gravidez foi igual à outra que tive. Para mim, ele é um bebê normal. Dorme muito durante o dia, gosta de ficar acordado à noite”, conta a mãe.
Para a sogra de Karina, a cabeleireira Sônia*, o amor pelo neto é ainda maior pela atenção que vai precisar. “A gente não se preocupa, a gente vai dar toda a atenção que ele precisar. Ele faz tudo normal, como qualquer bebê. É um presente especial para nós”, acredita. Ela acompanhou o neto e a nora durante a primeira consulta no Huoc.
Protocolo
O Huoc e Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) foram escolhidos como referência em Pernambuco para esses casos, sendo responsáveis por aplicar o protocolo desenvolvido pela Secretaria de Saúde. “Nós fazemos as entrevistas dessas mães, para entender o contexto da gravidez, analisamos os exames pré-natais e também pedimos novos, que constam no protocolo”, explica a infectologista Regina Coeli, do Huoc.
Os casos suspeitos de microcefalia se caracterizam por recém-nascidos que apresentam o perímetro da cabeça igual ou menor de 33 centímetros. A Secretária de Saúde do estado lançou um protocolo padrão, com orientações para a notificação dos casos, além de um portal onde as unidades de saúde enviam os dados. Os documentos podem ser verificados inclusive por mães e leigos, além de médicos, pela internet.
O levantamento mais recente aponta que os casos foram registrados em moradores de 42 municípios, com uma concentração maior no Recife, em Jaboatão dos Guararapes e Olinda, na Região Metropolitana, além de Toritama, no Agreste. A maioria dos casos são de meninas, representando 53,9%. Do total, 69,7% das crianças nasceram ‘a termo’, ou seja, entre de 37 e 41 semanas e seis dias.
Crianças nascidas com a malformação podem ter complicações motora, no desenvolvimento da fala e até quadros de convulsão, por isso precisam de um acompanhamento multidisciplinar, com neurologista, pediatra, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, entre outros profissionais.
*Os nomes das famílias foram preservados em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente [ECA] e a pedido das mesmas.
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