A FESTA DO COMÉRCIO
Foi um período da adolescência. Dezembro era um mês marcante. Período natalino e do lançamento das novas canções do rei Roberto Carlos, algo que era esperado o ano inteiro. Na rua, a Rádio Difusora União embalava o som da juventude. O estúdio era em um ponto do mercado público. Manoel Wavell Modesto era o seu coordenador. Nelson França o apresentador de vários programas. Muita mensagem natalina. Um dos programas era “Carlos Galvão em tardes especiais” apresentado pelo jovem Carlos de D. Neuda.
Nas tardes, a praça lotava de jovens ouvindo as mais belas canções românticas: “Tranquei a vida, nesse apartamento” cantava Ronnie Von. Outra que tocava muito era Cavalgada, do rei Roberto Carlos. Já os Fevers vinham com “Onde estão teus olhos negros?” entre outros sucessos. Peninha contra-atacava: “Tudo era apenas uma brincadeira e foi crescendo, crescendo, me absorvendo...”.
À noite, na praça central, Nelson França, apresentador da festa (foto) convidava os candidatos a calouro para a apresentação de mais uma noite de disputa. E lá estava eu subindo no palanque. O locutor perguntou: - Qual a música você vai cantar?. Eu respondi “- Amante à moda antiga”, de Roberto Carlos. Aí o apresentador anunciou a todo pulmão: - Vamos receber o calouro Paulo Tarciso ! (as palmas ecoavam...). Tremendo mãos e pernas, la fui eu: - … “Eu sou aquele amante à moda antiga, do tipo que ainda manda flores. ..”. Ganhei a primeira e a segunda noite. Na terceira, Edinho, um jovem que morava na rua da cruz, atual praça Nanô Camelo, cantou “O meu sangue ferve por você”, musica de Sidney Magal, o maior sucesso da época e ganhou de mim. Ele realmente se parecia muito com o astro Sidney Magal. Tinha o cabelo longo, como o do astro e para piorar a minha situação, dançava igualzinho ao ídolo. Acabou meu reinado de calouro que só durou duas noites.
Após apresentação dos calouros, era a vez de alguns sorteios, e por fim o convidado era Zaal, um componente do Som Bléss Set, oriundo da cidade de Escada (PE), que por sinal era um excelente cantor, o qual ficava até as 2, 3 da madrugada cantando uma seleção especial de Roberto Carlos e internacionais. A cidade ia dormir ao som daquelas canções românticas e se acordava no dia seguinte mais bonita. Parece que a paz descia até nós e se demorava algum tempo, querendo se perpetuar para sempre. Era tempo de natal...
A prefeitura organizava a festa do natal das crianças e um personagem da cidade interpretava Papai Noel, distribuindo um monte de presentes de cima do palanque que era montado na praça principal. A fila dos baixinhos era interminável. Todos ganhavam presentes.
O tempo passou e atualmente, não só na minha cidade, mas em praticamente todo o Estado os administradores resolveram acabar de uma vez por todas essa festividade tão saudável e familiar, principalmente nas cidades de interior. William Pôrto bem que tem lutado para resgatá-la no vizinho município de Arcoverde, através de várias matérias publicadas no Jornal de Arcoverde, além de diversos outros membros da equipe de seus respeitados redatores, sem falar de muitos leitores que reclamam o sepultamento dessa festividade tão querida. Já aqui na minha terra faço meu humilde protesto ao mesmo tempo em que reinvidico através dessa obra a volta da nossa festa do comércio e prefeitura, promovendo a boa música, os encontros de famílias, em vez de tanto “bate estaca” que tanto tem incomodado os nossos ouvidos ultimamente.
Francamente, não entendo os motivos do descaso com essa festa. Tudo bem que os dias atuais estão cheios de novidades, os gostos da juventude são outros, mas não creio que essas novidades justifiquem o fim dessa festa tão popular. Afinal, é somente no mês de dezembro. Vamos aproveitar o que de bom existe na atualidade, afinal, ainda existe muita música de qualidade, entretanto, infelizmente só se divulga “bate-estaca”. Esse tipo de música já tem onze meses no calendário anual para ser tocada.
Quem foi que disse que boa música, poesia, teatro, calouros, é coisa do passado e que os jovens de hoje não vão gostar?. Tentem pelo menos e verão que vai valer a pena!.
Texto extraído do livro “AS JANELAS DO SOBRADO”, páginas 108/109
Por: Paulo Tarcísio