Morre o último combatente do cangaço das forças voltantes de Nazaré


Tenente João Gomes de Lira, na época do cangaço
Tenente João Gomes de Lira, na época do cangaço
Carlos Alberto Jr. -  Repórter
O último representante vivo do combate ao Cangaço na região Nordeste, João Gomes de Lira, faleceu na noite de quarta-feira aos 98 anos de idade, vítima de edema pulmonar. O primeiro-tenente reformado da Polícia Militar (PM) de Pernambuco entrou para a PM em 16 de julho de 1931, aos 17 anos, e logo integrou a volante que perseguiu Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, pelas caatingas daquele Estado.
Nascido em três de março de 1913 e natural da cidade de Floresta, município do Sertão pernambucano, ele era, até então, o policial militar mais velho integrante dos quadros da Corporação. O 1º tenente reformado faleceu no Hospital da PM de Pernambuco. Seu corpo será sepultado às 9h30 de hoje, no distrito de Nazaré pertencente à cidade de Floresta. O ex-volante da PM era viúvo e deixou vivos, 11 dos 12 filhos que teve.

O tenente João Lira era uma referência na PM por sua bravura. Ele apresentou-se voluntariamente aos 17 anos de idade para combater o bando de Lampião e, por esse motivo, recebeu diversas condecorações, uma delas da Fundação Joaquim Nabuco. Em 1990, por estímulo da então ex-primeira dama do Estado, Madalena Arraes, ele lançou o livro “Memórias de um Sargento de Volante”, fruto de 35 anos de pesquisa sobre o Cangaço.
Considerado um ícone da história da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) e também do Estado, ele descreveu com exatidão e presteza os lances épicos daquela época, principalmente quando tomou parte, a partir de 1931, na volante do legendário tenente Manoel Neto, que na sesquicentenária e amada corporação, atingiu o posto de coronel PM e hoje o seu nome-símbolo denomina o Batalhão de Polícia Rodoviária da PMPE.
Uma das últimas homenagens que recebeu foi prestada no dia três de julho, data do seu último aniversário, em frente à sua residência, quando foi tocado o toque de Alvorada por um corneteiro do 14º Batalhão de Polícia Militar (BPM), sediado em Serra Talhada (PE), e também com a entrega de um diploma alusivo à data, ofertado pelo comandante do BPM, tenente-coronel José Albino Pereira da Silva. No dia 22 de julho um café da manhã foi oferecido por seus familiares no Clube Tenente Valdemar Freire, onde se fizeram presentes toda a comunidade do distrito, o prefeito de Floresta, Afonso Augusto Ferraz, além de policiais militares, da ativa e da reserva.
Lira não fez parte do grupo de policiais que matou Lampião, em 28 de julho de 1938, na Grota de Angicos, em Poço Redondo (SE), mas participou de alguns confrontos com o cangaceiro. “Ele fez parte da equipe do compadre dele, o Manoel de Souza Neto. Ele participou de várias perseguições ao grupo de Lampião. Lira tinha escrito boa parte dos relatos sobre o tempo em que ficou no encalço de Lampião”, disse João de Sousa Lima, historiador e especialista em Cangaço.
Ainda de acordo com João de Sousa, Lira era um dos últimos remanescentes do cangaceirismo. “Estava filmando um documentário sobre a vida dele. Agora teremos de concluir o trabalho sem novos depoimentos dele. A história oral do cangaço sofreu uma grande perda”, afirmou o pesquisador.
OUTRAS MORTES – O ex-volante Elias Marques Alencar, 96 anos, morreu em nove de fevereiro deste ano, em Piranhas (AL). Ele era o último integrante, ainda vivo, da volante que matou Lampião, em 28 de julho de 1938, na Grota de Angicos, em Poço Redondo, em Sergipe. Já em 20 de dezembro de 2010, também faleceu Antonio Vieira, 98 anos, em Delmiro Gouveia (AL). Ele era soldado da volante do grupo do aspirante Francisco Ferreira e lutou ao lado de Elias Marques. Antonio foi um dos primeiros a realizar o cerco a Lampião e seu bando.
Postado por: Buíque & Cia

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