9,6 mil famílias de Pernambuco, Alagoas e Ceará
recebem cestas de alimentos todo mês; projeto inclui ainda criação de
agrovilas, reforço escolar, atendimento médico e plantação de caju
No Vale do Catimbau, sertão de Pernambuco, os voluntários cruzam
as estradas de terra nos caminhões carregados de alimentos. Eles chegam aos
sítios isolados, aos lugares mais distantes e esquecidos. A agricultora Aderita
Ramos Bezerra e os seis filhos esperam ansiosos. Quando a comida está no fim,
eles sabem que podem contar com os Amigos do Bem.
“Eles ajudam muito. Quando está faltando ou
acabando, eles chegam com a feira. Nunca mais ninguém passou fome”, comenta
Dona Aderita.
Fome nunca mais para 9,6 mil famílias de Pernambuco, Alagoas e
Ceará, que todos os meses recebem uma cesta com até 30 quilos de alimentos. “Dá
para carregar [a cesta] sossegado. Agradeço a Deus, porque tem servido para
todo mundo, coisa que ninguém nunca viu”, diz o agricultor José Fortunato.
Os sertanejos voltam para casa levando a ajuda que vem de longe.
Cinco mil voluntários de São Paulo recolhem cada quilo de alimento e cada peça
de roupa para distribuir no Sertão. Dona Aderita volta para casa com os
presentes. “Ganhamos a feira, uma roupinha e calçado também. Estou muito
feliz”, disse a agricultora Aderita Ramos Bezerra.
Há seis anos, tudo o que havia no pedaço do sertão era poeira,
mandacaru e a vegetação da caatinga. Era difícil imaginar que a paisagem árida
pudesse se transformar em uma gigantesca plantação. Acostumados a desafios, os
voluntários plantaram 100 mil pés de cajus. Hoje a fartura cobre de verde a
terra que nada produzia.
São 410 hectares de cajueiros. Com tanta fruta madura no pé, era
preciso muita mão de obra e rapidez para que os cajus não apodrecessem. O que
era preocupação virou uma boa surpresa: 400 sertanejos decidiram ajudar como
voluntários. As primas Maria das Graças e Rosimere foram as primeiras a chegar.
“Eles não nos ajudam tanto, saem de tão longe para ajudar, por que
não? Eles precisam agora e nós não vamos ajudar? É um pouquinho que nós podemos
fazer”, afirmou a agricultora Rosemere Ramos. “Ave Maria, não tem coisa melhor,
porque é muito bom demais a gente ajudar”, acrescentou a agricultora Maria das
Graças Ramos da Silva.
Quem recebeu ajuda agora faz questão de retribuir. A corrente do
bem envolve famílias inteiras. “Minha mãe, duas concunhadas, um irmão, uma
comadre, um primo, um vizinho e um tio. Ninguém quis perder essa colheita”,
conta a agricultora Rosilda Gomes da Silva.
Acostumados à rotina pesada na roça, os
voluntários trabalham numa rapidez impressionante. As caixas ficam abarrotadas.
A produção deve chegar a 200 toneladas. “Se for preciso, a gente vem dois ou
três dias na semana. Pode chamar que nós estamos no pé”, se diverte a
agricultora Edite Ferreira da Silva.
A polpa do caju é vendida para fábricas de sucos da região. A
castanha, que vale mais, é beneficiada em uma fábrica construída pelos
voluntários. Através de uma cooperativa, os agricultores vendem a produção e
repartem os lucros. “Esse é o primeiro emprego”, comemora uma agricultora.
Nada como ter amigos. Os voluntários construíram quatro agrovilas
no sertão de Pernambuco, Alagoas e Ceará. Ao todo, são 500 casas de alvenaria e
muito conforto. Uma diferença e tanto para quem vivia em barracos com paredes
de barro, como a dona de casa Helena Tavares da Silva, o marido e os nove
filhos. “Minha vida está sendo de muita alegria. Aqui em casa é só alegria”,
comenta a dona de casa.
E tem mais: óculos de graça, atendimento médico e odontológico.
Sorriso novo. “Hoje a gente tem oportunidade de oferecer mais um pouquinho a
eles, de devolver o sorriso e a estética, poder voltar a comer e mastigar
direito o alimento. São tantos benefícios que uma prótese e um dente trazem que
a gente não consegue nem mensurar”, comenta o dentista Rodrigo Lanfranchi.
Além das aulas de informática e de reforço
escolar, o maior desafio já está em construção. Em uma imensa escola, as
crianças poderão se preparar para o futuro. Um projeto do tamanho da
generosidade dos brasileiros. Não duvide da força da turma do bem.
“Se não posso fazer tudo que devo, devo ao menos fazer tudo que
posso. E vamos fazer”, afirma Alcione de Albanesi, presidente da ONG Amigos do
Bem.