Pernambuco tem a sua Bonito, que também se destaca pelas águas - cachoeiras como a Véu da Noiva são os destaques na cidade, que é ponto de ecoturismo
Do Estadão Conteúdo
A identidade cultural do Nordeste – e também o imaginário que grande parte dos brasileiros tem da região – está intimamente ligada às paisagens e manifestações do interior. Foi no agreste e no sertão que floresceram o forró, as festas juninas, as figuras do cangaceiro e do vaqueiro, a culinária baseada em carne de bode e queijo coalho. Marcada pela seca e por problemas sociais da Bahia ao Maranhão, a região acaba perdendo para o litoral o protagonismo turístico. Mas longe do cenário de coqueiros e mar, o Nordeste também conquista: pelos belos visuais e atrações ainda pouco conhecidas.
Sim, a falta de infraestrutura é um grande impasse para desbravar a grandiosidade do interior nordestino. De maneira geral, muitas estradas não têm boas condições e faltam opções de hospedagem e locomoção, a depender do destino. Mas para o turista que tem interesse em descobrir um outro Brasil, pode ser que tais fatores sejam problemas menores.
Como em qualquer lugar de dimensão continental, o interior nordestino é formado por várias paisagens e identidades. Cachoeiras, rios e grutas nas chapadas baianas; oásis nas margens do rio São Francisco; a seca do Seridó potiguar, a devoção religiosa do Cariri cearense; os sítios arqueológicos do Piauí. Selecionamos três desses roteiros para uma primeira imersão pela natureza desse Nordeste interiorano, tão belo quanto diverso. Antes de pegar a estrada, algumas dicas gerais: um carro para facilitar os deslocamentos, protetor solar, muita água e disposição.
Em junho
Além das temperaturas mais amenas, as festas de São João são outro bom motivo para descobrir o interior nordestino em junho. Entre as principais celebrações, as sanfonas tocam em arrasta-pés em Campina Grande, na Paraíba, e nas pernambucanas Caruaru e Petrolina.
A farra paraibana dura um mês, de 3 de junho a 3 de julho, com competições de quadrilha e muitos grupos de forró. O astro do momento, Wesley Safadão, já está confirmado pela organização, além da cantora Elba Ramalho e do padre Fábio de Melo, que participa desde 2013. Mais da programação será confirmada ao poucos no sitesaojoaodecampina.com.
Já em Pernambuco, o São João de Caruaru ainda não tem programação definida, mas o Pátio de Eventos Luiz “Lua” Gonzaga será mais uma vez o palco da festança. Em Petrolina as datas também não foram confirmadas ainda, mas a farra caipira é garantida.
Rota pernambucana - Do Recife ao Vale do Catimbau
Esqueça as piscinas naturais de Porto de Galinhas e as ladeiras históricas de Olinda. Chegando ao aeroporto do Recife, o caminho em direção ao interior é pela BR-232, que percorre Pernambuco de leste a oeste. Cerca de uma hora depois de deixar a capital vem a primeira surpresa: ao subir a Serra das Russas, a temperatura na cidade de Gravatá é fria.
Hospedagens competentes rendem boa justificativa para pernoites em Gravatá. O Hotel Canariu’s tem parque aquático com toboáguas e piscina aquecida, quadras e balada. Custa no mínimo R$ 370 para casal, por noite. O Portal de Gravatá (desde R$ 382) tem proposta parecida e mais ênfase na fazendinha, com galinhas e ordenha diária de vacas. Para comer, sabores italianos e um quê romântico dão o tom do Ristorante Antonieta (81-3533-1786); e a Buchadinha da Biu (81-3533-1935), de vocação regional, serve bode e deliciosos petiscos de charque.
Ainda no clima agradável do início do agreste pernambucano, o município de Bezerros, a menos de 30 minutos de Gravatá, guarda a bela Serra Negra. Um polo cultural concentra a produção de mais de 60 artesãos, indo das xilogravuras às máscaras carnavalescas dos papangus. A Serra Negra, que tem formação rochosa e é verde praticamente o ano inteiro, tem trilhas, grutas, mirantes e atividades de aventura como o rapel. À noite, a temperatura pode ficar abaixo dos 10 graus. A pousada Canto da Serra (desde R$ 350) tem charme e organiza passeios.
Ainda no agreste, seguindo pela PE-103, Pernambuco tem a sua Bonito, que também se destaca pelas águas – cachoeiras como a Véu da Noiva são a principal atração, e a elas se chega por trilhas. Para percorrê-las, agências locais como a Regateio Viagens oferecem tours desde R$ 90 por pessoa. Hospedagem confortável com opções de esportes ao ar livre, o Bonito Eco Parque tem rapel, parede de escalada e tirolesa, e conta com guias para trilhas em toda a região (diárias desde R$ 200).
Na vizinha Palmares é possível vivenciar outra marca muito forte na história nordestina: engenhos de cana-de-açúcar. Exemplares da época colonial permitem um mergulho na história das senzalas e do açúcar, rapadura e cachaça. O Engenho Caramuru recebe visitantes avulsos para conhecer os processos de transformação da cana e os hospeda em aconchegante pousada (desde R$ 260).
De volta à BR-232, em direção ao sertão está uma das maiores joias do interior de Pernambuco. No município de Buíque, o Vale do Catimbau já foi cenário de filmes como Árido Movie (2006). São poucas opções de alimentação e hospedagem, como a simples Pousada Vale do Catimbau (R$ 80 por pessoa; 87-3816-3030). Mas, nos 62 mil hectares de área, a visitação vem aumentando ano a ano – em 2016, o número deve fechar em 6 mil pessoas, de acordo com a associação de guias locais. Será um recorde.
Muitos guias do Vale do Catimbau são nativos da tribo indígena kapinawá. Contratar um deles é indispensável – é fácil se perder em meio à caatinga. “Nem eu que sou daqui conheço tudo”, diz o guia Márcio Araújo. Tours começam em R$ 100 e os pontos mais visitados são as pinturas rupestres do Sítio Arqueológico do Homem Sem Cabeça e o Chapadão, cânion de visual deslumbrante.